2.12.2007

A Olaria Tradicional





Preparação da Pasta

O barro utilizado pelos oleiros de Viana do Alentejo era retirado
de umas barreiras situadas na Herdade dos Baiões, a 3 km da vila. Pertencia esta propriedade à famíla Cabral, que há bastantes anos tinha doado o barro aos oleiros de Viana, mediante o pagamento por parte deste de um foro, em peças de barro. Depois esta herdade transformou-se numa U.C.P., continuando os oleiros a usufruir
dos mesmos direitos sobre o barro.
A argila é cavada nas barreiras e transportada em carroças para as diversas olarias. Aqui, onde o ambiente tem um aspecto particular, dado pela humidade, pela lama e pela fraca iluminação, começa a preparação do barro.

O processo utilizado pelos oleiros (à excepção de um, que já utilizava uma máquina para o efeito) é o tradicional, bastante rudimentar,
e que passamos a descrever de seguida:

O barro é exposto ao sol para que se possa partir mais facilmente
em pequenos bocados («misgalhar o barro»). Sobre a argila partida
é deitada água, de preferência com um regador, para que esta seja totalmente absorvida. É usual fazer-se esta operação ao fim do dia,
para que durante a noite o barro vá amolecendo. Seguidamente,
o barro é amassado com a mão e colocado num monte. O oleiro sobe para ele e, colocando um pé ao centro, servindo de apoio, roda no sentido dos ponteiros do relógio, esmagando os bordos com o calcanhar,
que progressivamente se vai enterrando.

Logo que a espessura do barro atinge 5 cm aproximadamente, o oleiro dá por terminada esta fase do trabalho. Passa de seguida à detecção
de impurezas e corpos estranhos, utilizando para o efeito a sua própria mão que faz passar por pequenos blocos de barro. Todo este trabalho
de preparação do barro demora cerca de hora e meia, e a partir desta última operação o barro está pronto a ser trabalhado na roda.





A Roda


A roda mais antiga, e a mais simples, é denominada roda baixa, movida com a mão. Era utilizada já pelos egípcios, como testemunham os frescos
de há 2000 anos antes de Cristo, existentes nos túmulos de Tebas e reproduzidos por A. Brongniart e Joaquim de Vasconcelos, nos seus estudos sobre cerâmica.

Este tipo de roda,era utilizado em muitas regiões de Portugal, principalmente no Norte do País. Não há vestígios de rodas deste tipo primitivo no Alto Alentejo. Os oleiros alentejanos utilizam outro tipo
de roda, mais alta, accionada com o pé e de origem árabe.

A roda é o principal utensílio do oleiro. Está montada numa espécie
de mesa denominada «arquina», onde é colocada uma placa de madeira, uma tigela com água e as «pelas» (ou blocos) de barro.

É difícil trabalhar na roda, exige grande vocação, prática
e perseverância, para se conseguir uma sincronização perfeita entre
os pés e as mãos. O pé imprime o movimento e controla a velocidade, enquanto as mãos vão transformar o bloco de barro, colocado sobre a roda, subindo-o, alargando-o, até se tingir a forma final que o mestre idealizou. Cortando a peça pela base com o fio ou arame, a peça
é retirada e colocada numa placa de madeira.

As peças, depois de moldadas, ficam a secar em prateleiras ou no chão, de maneira a ficarem apenas com 7 a 10% de humidade; só depois podem ir a cozer. O tempo de secagem é variável, dependendo de vários factores: espessura da peça, condições das instalações e condições atmosféricas.


Os Fornos


Os fornos de Viana do Alentejo eram geralmente construídos nos pátios dos oleiros. Eram descobertos, sem chaminés, protegidos dos ventos por paredes de alvenaria, geralmente cobertos por uma abóboda protegida com telhas.

Podemos dividi-los nas seguintes partes: caixa, boca, caldeira e arcos.

As peças ao serem colocadas no forno (operação de «enforna»),
têm de obedecer a uma técnica apurada, de maneira a que o fogo
seja distribuído de modo igual para todas elas. A lenha é introduzida lentamente (duas a quatro horas), (período «resquente»), evitando-se assim a mudança brusca de temperaturas, que poderia ocasionar que todas as peças se quebrassem. O tempo de cozedura é variado, dependendo da posição das peças no forno, da qualidade
e da quantidade de lenha. Normalmente a cozedura é feita durante a noite, pois este tipo de fornos não tem qualquer indicador de temperatura, tendo o oleiro que espreitar a cor das peças, através de uma vigia para saber se já estão cozidas, colocando, no caso da cozedura ainda não estar acabada, mais lenha sobre as peças mais cruas.

Em: ESTIG - Int. Politécnico de Beja

2.08.2007

"A Guerra"



"Os portugueses foram buscar o termo guerra às invasões germânicas, de suevos, godos, ostrogodos e vândalos (estes últimos de tão má memória que ainda hoje as gentes do Minho num delicioso falejar chamam a um sujeito mal comportado de gândulo.

A longa (e embora imposta) pax romana quase fizera esquecer o termo latino para a guerra: bellum, e, que só viria a reaparecer, mas por via erudita, no Renascimento, com as armas bélicas, os povos belicistas,
os homens belicosos.

A guerra era , pois, o germânico werra (o dabliu deve ler-se gue).
Fazia-se, na Idade Média pelos métodos do fossado ou da razia, raras vezes pela batalha em campo aberto.



Um fossado , de que tantas vezes falam as cantigas de amigo, esse era latino: o fossatum, um lugar consolidado com trincheiras, (uma fossa) assim qualquer coisa como a muito impropriamente denominada Cava de Viriato, nas vizinhanças de Viseu.

Enquanto o fossado desapareceu da terminologia dos nossos tempos, (a não ser que volte para dizermos que estamos na fossa...) a razia é um termo comum: vai dos feitos futebolísticos às aventuras do rapazio, até às consequências dos actos dos amigos do alheio.
Contudo só os ladrões estão etimologicamente correctos.

Razia (aliás razzia) é palavra árabe que significa inesperado ataque nocturno, como, por exemplo, fez Afonso Henriques em Santarém.
Com o andar dos tempos, as consequências do acto acabaram de lhe roubar o significado.

Burgos, nome de cidade espanhola, e trégua mantiveram-se
na Península como derivados de werra, a atestar a colonização suévica,
e Leão corresponde ao étimo de legião (a VII que esteve por ali estacionada por longo tempo, antes de ocupar o norte de Portugal).

Da guerra com os árabes, ficaram-nos inúmeras palavras.
Um almirante (a que a Idade Média proferia almiral) é um al-mir mouro e um alferes teria sido um alferico.
Mais pacificamente, um açoute (azzaut) não passava de uma simples bofetada entre os nossos vizinhos do norte de África."



Exemplo de Castelo em paliçada Séc XII


fossado
adjectivo
1. cavado como um fosso;
substantivo masculino
1.cova de profundidade variável (fosso) aberta à volta de fortificações para servir
de defesa, , conforme o tipo de preenchimento pode ser seca ou molhada.;
2.HISTÓRIA serviço militar medieval cuja prestação respeitava normas estabelecidas pelo foral ou pelo costume da terra;
3.HISTÓRIA incursão ou investida militar sobre território inimigo, na Idade Média;
(Part. pass. de fossar)

Fontes:
"A Guerra", de Roby Amorim
em "Elucidário de Conhecimentos quase Inúteis"
Ed. Salamandra / 1985
Dicionário, www.infopedia.pt