Júlio Pomar, “Cegos de Madrid”, 1957-59.
Óleo sobre tela, 81,5x101cm
Contemplai-os, ó minha alma; eles são pavorosos!
Iguais aos manequins, grotescos, singulares,
Sonâmbulos talvez, terríveis se os olhares,
Lançando não sei onde os globos tenebrosos.
Suas pupilas, onde ardeu a luz divina,
Como se olhassem à distância, estão fincadas
No céu; e não se vê jamais sobre as calçadas
Se um deles a sonhar sua cabeça inclina.
Cruzam assim o eterno escuro que os invade,
Esse irmão do silêncio infinito. Ó cidade!
Enquanto em torno cantas, ris e uivas ao léu,
Nos braços de um prazer que tangencia o espasmo,
Olha! também me arrasto! e, mais do que eles pasmo,
Digo: que buscam estes cegos ver no Céu?
Pieter Bruegel, Parábola do cego guiando o cego (detalhe), 1568.
[Les Aveugles _Contemple-les, mon âme; ils sont vraiment affreux! /Pareils aux mannequins; vaguement ridicules; /Terribles, singuliers comme les somnambules; /Dardant on ne sait où leurs globes ténébreux. _Leurs yeux, d'où la divine étincelle est partie, /Comme s'ils regardaient au loin, restent levés /Au ciel; on ne les voit jamais vers les pavés /Pencher rêveusement leur tête appesantie. _Ils traversent ainsi le noir illimité, /Ce frère du silence éternel. O cité! /Pendant qu'autour de nous tu chantes, ris et beugles, _Eprise du plaisir jusqu'à l'atrocité, /Vois! je me traîne aussi! mais, plus qu'eux hébété, /Je dis: Que cherchent-ils au Ciel, tous ces aveugles?; in: Les fleurs du mal]
Recebido em: vianadoalentejo@hotmail.com
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