Na minha mocidade, ao falarmos das grandes multinacionais e para ilustrarmos a sua falta de escrúpulos, comentávamos uma prática promocional a que eles recorreriam, a publicidade subliminar.
Constava então que uma conhecida marca de refrigerantes norte-americana, usando a sua poderosa influência junto da indústria cinematográfica de Hollywood mandava introduzir mensagens publicitárias, intercaladas ao longo dos filmes. Sendo o tempo de projecção da ordem da fracção de segundo o espectador não chegava a ter consciência dela. No entanto, a continua visualização da mensagem, fazia com que a nível subconsciente ela ficasse bem impressa na mente dos espectadores e logo no intervalo dos filmes seria visível um sensível aumento do consumo dos tais refrigerantes.
Muita gente se riu na altura, hoje está cientificamente comprovado e estuda-se nas universidades.
A exposição continuada dos mais novos à convivência com o desleixo, maus exemplos e vulgarização do feio tem graves efeitos na formação dos adultos e amanhã.
A educação dos nossos filhos, sendo em primeira-mão tarefa dos pais é também da responsabilidade das escolas, agentes socioculturais, e em última instância de todos nós.
São já visíveis os efeitos nefastos que essa insensibilização dos sentidos tem vindo a provocar, pelo contraditório das mensagens a que estamos sujeitos, na nossa forma de ver, sentir e agir.
Habituámo-nos há muito a conviver com uma realidade laxista, de tal forma que já não passa pela cabeça da maioria questioná-la, imaginar que poderia ser diferente, melhor.
Baixámos os nossos níveis de exigência, fugimos às nossas responsabilidades para connosco e para com a comunidade e a par disso estamos a destruir o que resta da nossa auto-estima.
Entre muitos dos que têm consciência da situação é tal a apatia, que sendo confrontados com tal é frequente ver um esgar de mal-estar atravessar-lhes no rosto. É incómodo mexer ou questionar o “status quo”.
Pior que a crise económica é a crise de mentalidades.
Sem se alterar a segunda duvido que algum dia se consigam criar soluções para a primeira.
António Meneses – cegagatos@hotmail.com
Recebido em: vianadoalentejo@hotmail.com
"Subliminar (teoria da comunicação): Característica do signo ou da mensagem que tem a forma de estímulo registado pela audiência sem ultrapassar o limiar da consciência. Existem técnicas que possibilitam veicular mensagens subjacentes capazes de modificar subtilmente as posturas e o comportamento do público-alvo. Na maioria dos países o uso de publicidade e propaganda subliminar é proibido pela lei e pelos códigos deontológicos dos profissionais da comunicação." [...]
@: infopedia.pt
9 comentários:
António, estou inteiramente de acordo...
Mas como mudar este "status quo" e suas mentalidades ?
Tens alguma sugestão, para inverter a tendência instalada ?
Era bom trazer muitas opiniões e sugestões ao debate de ideias que este teu post merece e suscita.
Bem haja!
É necessário criar aquilo a que se vulgarmente se chama de massa crítica. Só uma opinião pública forte poderá pressionar os eleitos, exercendo a fiscalização que a inexistente oposição deveria fazer, mas não faz.
Cada um de nós deve contribuir nesse sentido com o pouco que puder, no trabalho, com os amigos, mas principalmente no seu agregado familiar.
Perdendo batalhas, mas levantando-nos, uma e outra vez, continuando a lutar pelas nossas convicções!
António Meneses
Concordo porque:
A CDU está morta e enterrada há mais de um mandato. Com a expulsão do Sr. Diamantino cortou-se o último elo de ligação ao Partido. Se não há ideologia, e estando à redea solta, porque é que haveriam de ter vergonha? E se a alternativa forem os manos, Deus nos livre, que já tivemos a nossa dose de ‘bons rapazinhos’!
No PSD, não obstante a oposição dos barões locais, tem-se assistido nos últimos anos a algumas tentativas na procura de novas soluções. Lendo as actas da Vereação percebe-se que o seu vereador vai fazendo os trabalhos de casa, punindo pela sua dama, leia-se Alcáçovas. Por vezes dá uns tiros nos pés (aquela de sair em defesa do Presidente quando do caso da PJ não lembra ao Diabo), enfim restos do nosso conhecido e salazarengo corporativismo.
Agora o PS, as mesmas figuras de sempre, muita moda e bordado, empenho ou ideias néspias. Quase sempre coniventes com o poder, os históricos concelhios do PS, são ( o tal pecado da omissão), os grandes responsáveis pelo degradado e degradante estado a que se chegou no concelho de Viana.
Dizia alguém, aquando da cega-rega com o pseudo candidato das últimas eleições, “nem com viagra lá vão!”
O desinvestimento no espaço urbano por parte desta autarquia, bem como as novas soluções de urbanização sem linhas mestras e sem conteúdo formal e funcional, têm desfigurado o espaço urbano de Viana do Alentejo. O crescimento descontrolado ao sabor da curva e dos “senhores” hipotecam desde logo a possibilidade do espaço para o cidadão, Viana não é hoje mais do que um conjunto de ruas alcatroadas que se cruzam labirinticamente.
Este desinvestimento principalmente no casco urbano desvaloriza o património e desencoraja o turista, da mesma forma que desmoraliza o comerciante e o morador.
Obrigado António Menezes por este excelente texto que nos deixa realmente a pensar no agora e no amanhã.
Fala se de coisas muito sérias neste post... Mas há sempre quem fuja ao quê das grandes questões e queira resvalar para as eleições autárquicas de 2009.
Tanta febre, para quê ?
Tudo a seu tempo e nada fora do tempo!
Especular para quê ? Para satisfazer egos ? Que falta de tacto !
Agora o que é importante é ler muito bem este post e tentar melhorar aquilo que são os espaços públicos e pelos vistos, comuns a todos os residentes em Viana do Alentejo.
Ou será que não ?
É vergonhoso quando somos visitados por amigos que há muito tempo não passam por Viana, ouvi los dizer: "que aconteceu por cá, isto mais parece uma Vila Fantasma".
E que dizer para mudar a observação ? Nada! Pois esta à vista de todos.
Então, gostam de morar e receber os vossos amigos por cá?
A entrada da vila dos lados de quem vem de Aguiar é o nosso melhor cartão de visita.
E o principal, pois é daí que vêm os lisboetas e os espanhois (já que os eborenses devem fazer turismo noutras paragens). Levam logo com uma visão industrio-informativa para se compenetrarem que na terra não somos de mariquices, nem de grandes hospitalidades. Depois é visitar o Castelo, a Nossa Srª d'Aires e fugir rapidamente, que aqui não há restaurante de referência nem mais nadica pra ver... É pena. Com um pouco mais de empreendedorismo esta terra podia anunciar e oferecer a olaria, a marcenaria, a gastronomia, a "chocalharia" e doçaria (de Alcáçovas), a gastronomia, o artesanato, as pedreiras, a estadia...
A triste mensagem retirada do texto de António Meneses, documentada com imagens de profunda degradação urbana da sede do concelho, ficou gravada nos nossos sentidos, com grande relevância para aquelas pessoas que têm observado a decadência de Viana em quase todos domínios.
Estas fotografias são apenas uma pequena amostra das centenas que poderiam ser publicadas para servir de exemplo.
A degradação é tanta que a anormalidade arquitectónica, é a regra observada na sede do concelho.
Uma pequena nódoa numa camisa branca, dá muito nas vistas, apetece logo limpar aquilo que anteriormente estava imaculado.
Mas se a mesma camisa branca for tingida de várias cores desarmónicas, as nódoas que a entranharem já pouco se notam.
Assim está Viana, “Todo o Sol do Alentejo”, suja com um tecido urbano incoerente, descuidado e abandonado.
É igualmente exemplo as obras inacabadas pela Câmara, faz e desfaz – veja-se o mercado em frente do Ecomarché.
A insensibilização dos sentidos efectuada pelo nosso grande líder autárquico e associados, com mais um almoço nos Bombeiros no fim-de-semana passado, tem dado também alguns resultados, a mensagem subliminar vai passando.
A degradação urbana é tanta que ninguém instalado no poder sabe como solucioná-la. Alguma população passa por este lixo urbano imaginando que está caminhando numa passerelle.
É como viver numa barraca e ter um Mercedes à porta: os seus moradores quando estão na barraca acocorados no chão imaginam-se sentados nos bancos do belo automóvel. Infelizmente foram estes os valores que ao longo dos anos este executivo tem inculcado em grande parte da população.
Para o cenário ser completo só falta instalar uma rede de altifalantes pela vila e ligá-los ao Cine Teatro.
Desta forma toda a população podia ouvir as palestras declamadas pelo Presidente, semelhantes aos documentários de actualidades e de filmes de propaganda que antecediam as projecções nas salas de cinema que circulavam por todo o país antes do 25 de Abril.
Mário da Silva
Oh Mário da Silva, que grande post... sensibilidade e olho clínico! O que comentas é bem verdade e muito triste , mas ainda assim sustentas com objectividade, precisão e com uma surpreendente postura HUMANA...
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