8.15.2005

As Pulgas Democráticas

"Histórias portuguesas
inspiradas no melhor do cinema
neo-realista italiano

O meu velho amigo e colega Baptista Fernandes trabalhou,
nos anos 50, em Viana do Alentejo.

A escola era uma casa (mal) adaptada ao exercício da profissão.
De resto, quando digo "mal adaptada", utilizo uma espécie
de eufemismo: na realidade, tratava-se de um pardieiro
cheio de buracos que não foi alvo do mais pequeno esforço
de adaptação.

Dos tais buracos, saíam inflamados exércitos de pulgas famintas, dispostas a uma perigosa troca de fluidos com o professor
e com os alunos (pulgas democráticas, estas: picavam
- e picavam bem - sem olhar a quem).

Farto das incursões dos dípteros insectos, pernas inchadas
à conta dos esforçados estiletes dos bichos,
o Professor Baptista Fernandes (a necessidade aguça
o engenho),magicou uma solução estranha (porém eficaz): Diariamente, antes de entrar para a sala de aula, rotinou
o procedimento de arregaçar as calças até meio da perna, autopolvilhando-se, de seguida, com um poderoso
e famoso desinfectante adstringente, vulgarmente conhecido
por DDT. E aconselhou as mães dos alunos a fazer o mesmo
aos filhos.

Cientes do perigo atinente, o produto era utilizado com senso
e moderação e resolveu o problema do pulguedo.
Como, quem não tem cão caça com gato, e na falta de verba
para se proceder à desinfestação, quem sabe se, com esta ideia,
não terá o mestre evitado males maiores."
sic

Publicado por ACarvalho - 4 de agosto de 2005
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