12.13.2007

Alqueva já pode iniciar o abastecimento público II









Segundo um artigo saído no Público do passado dia 11 de Novembro
a albufeira do Alqueva estará, lá para os finais de 2009, ligada
às albufeiras do Monte Novo, Alvito, Roxo, etc.

É necessário agora trabalhar para melhorar a qualidade da água,
já que a do Alqueva é aquilo que se sabe - como a imagem tão bem ilustra na foto tirada junto ao paredão - e a das restantes albufeiras
do Plano de Rega do Alentejo não é, nem por sombras melhor.
Também não se podia esperar outra coisa, com os esgotos
de povoações, indústrias e adubos agrícolas, somados aos esgotos
das pecuárias, a serem despejados nas albufeiras como se de imensas lixeiras a céu aberto se tratassem.

Como não basta criticar, aqui ficam algumas sugestões para alterar
o actual estado das coisas.










Povoações

Todos sabemos, mas teimamos
em querer ignorar, que muitas povoações despejam
os seus esgotos nas linhas
de águas/albufeiras, com pouco
ou nenhum tratamento.
Quando este existe, não há formas credíveis de monitorizar
a qualidade do efluente
que é devolvido ao meio ambiente.

Muitas das estações de tratamento
funcionam mal e algumas,
com dezenas de anos
de existência, nunca chegaram
mesmo a trabalhar.

Para muitos municípios saneamento é coisa que está enterrada debaixo de terra,
só serve para gastar dinheiro
e não dá votos.

A recuperação das redes
de saneamento terá de passar,
entre outras, pela necessária separação das águas pluviais
das dos restantes esgotos domésticos.

Só assim as estações de tratamento
poderão efectivamente funcionar,
permitindo também reaproveitar as águas da chuva para rega, lavagens, etc.


Indústrias

Se bem que o Alentejo seja
uma região com pouca indústria,
e acreditem que tenho pena
que não haja mais, o certo
é que existem algumas actividades industriais tais como as das adegas e lagares, entre outras,
que sazonalmente poluem as linhas
de água.

O cheiro que na altura da laboração
se sente e a cor
que em muitas linhas de água se vê,
são bem prova disso.

E sem razão de ser, já que existem hoje em dia processos perfeitamente testados para a descontaminação dos subprodutos do funcionamento destas indústrias.










Agricultura

Através da adubação dos terrenos
e da aplicação de produtos químicos para potenciar
o crescimento e tratamento
das culturas, a agricultura contribui
e bem para o inquinamento
das águas.
Os referidos produtos, para além
de por infiltração nos terrenos, contaminarem os lençóis freáticos, vão também à superfície, arrastados pela chuva, transformar em veneno as águas das albufeiras.

Se para obter um medicamento
é necessária a respectiva
receita médica, não se compreende
que para se tratar de pomares
ou adubar largos hectares
de culturas, qualquer um possa
ir à drogaria da esquina e comprar
o pior dos venenos para aplicar
a seu belo prazer e isso
com evidentes implicações
na saúde pública.

E depois - no nosso conhecido estilo - se para obter o efeito necessário bastariam dez gramas por hectare de um determinado produto, não senhor, pelo sim pelo não, e como não se mandam analisar as culturas/terrenos, aplicam-se trinta ou quarenta que é para a coisa funcionar de certeza.




Não vejo outra alternativa que não seja o controlo rigoroso do tipo
de agricultura exercida nestas zonas, sem timidez.


Pecuárias

As pecuárias situadas dentro
das bacias hidrográficas das albufeiras têm de ser avaliadas, quanto à localização, número
de animais e condições
de tratamento dos seus resíduos.
Não basta fazer dois ou três buracos no chão para se dizer que se tem um tratamento por lagunagem,
ou pretender que dois hectares
de terra absorvem por espalhamento os resíduos de centenas de cabeças de gado.

E quando se fala de resíduos fala-se também das enormes quantidades de antibióticos e outros remédios que por fazerem parte
do tratamento do gado acabam depois por ser expelidos pelos animais indo parar à natureza.

E essa coisa das vedações em arame farpado avançando por dentro
da água, dá jeito para o gado poder
ir beber à margem, enquanto
vai alegremente defecando na água
que vamos beber… tenham dó.

Voltando agora à águinha da torneira, parece-me que quando
o administrador delegado das águas do Centro Alentejano afirma
que Alqueva está e condições de garantir a recarga do Monte Novo,
e implicitamente do Alvito, com "água em quantidade e qualidade" esqueceu-se de dizer que no que toca à qualidade, ela só a terá depois
de a mesma ser tratada em dispendiosas estações de tratamento
que aplicam processos de filtragem cada vez mais complexos, à medida que a qualidade da mesma na origem se vai degradando.

É também importante referir que em muitas povoações, cerca de metade das águas da rede de abastecimento pública, se perdem numa infinidade de remendos e que a sua qualidade é também posta em causa pelo estado da própria rede de distribuição.








É preciso ir rua a rua, levantar as diversas redes de infra-estruturas
e refazê-las de acordo um projecto global feito olhando para os interesses das comunidades e não para os umbigos.
Tal terá que ser feito ao longo de décadas o que, a meu ver,
é completamente incompatível com os ciclos políticos de quatro anos
e com a miopia dos políticos.
Esta tarefa não pode ser deixada unicamente às Câmaras que na generalidade dos casos e como se tem visto, não possuem competência nem capacidade para o fazer. Sujeitas aos jogos de interesses e reféns dos referidos ciclos de quatro anos são incapazes de impor aos seus eleitores as medidas necessárias para tal.
Talvez seja por reconhecerem isso que, a pouco e pouco, estes nossos políticos tenham vindo a passar para o sector privado a gestão destes interesse públicos, acabando depois lá alguns deles, a sua carreira profissional. Não concordo. Haveria que criar outras soluções.
Pode não parecer, mas eu ainda acredito que cabe ao Estado
aquela coisa da "paz, do pão, da habitação da saúde e da educação".

Manuel Baião

Recebido em: vianadoalentejo@hotmail.com

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas de miope os nossos politicos camararios não tem nada, ainda não esqueci a forma como um tal de café dum tal de cinema foi atribuido, em que condições, e a quem, assim quem é miope somos todos nós.

Anónimo disse...

Pois mas parece que nao é so na atribuiçao do cinema... ha mais e agora viana tá a abrir a pestana!
Parece que o nosso todo poderoso vai morrer na praia!!! e é por causa das saias (ja nao lhe chega uma!!!).... nao sei se o PCP o consegue salvar......

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