5.16.2008

A martelada didáctica



A martelada no mindinho, por José Pedro Gomes

[...] "Agora que tenho andado pelo país todo, mais uma vez, voltei a encontrar uma das nossas especialidades, outra das coisas em que somos melhores na Europa: sinalização duma maneira geral e das estradas em particular. Sou obrigado a concluir que não se tem muito respeito pelo esclarecimento de quem necessita dele.

Há uns departamentos nas câmaras que recrutam uns seres especiais que ficam com a responsabilidade de espalhar tabuletas pelas estradas. O que eu não percebo é por que é que escolhem sempre pessoas que não são capazes de se pôr na pele de uma pessoa que não sabe o caminho e precisa das tabuletas para chegar ao destino. É que eu vou seguindo as tabuletas e está tudo bem... mas é precisamente no último sítio onde a estrada se divide em dois que falta a tabuleta, é na nova rotunda que construíram que falta a indicação, é no último entroncamento que falta a indicação de «desvio». E é isto no país todo! No Algarve já desisti mesmo de tentar ir a qualquer lado. Estou mesmo convencido que a falta de competência da malta que põe tabuletas no Algarve é propositada, para aumentar o turismo. Há uma quantidade de turistas, ingleses principalmente, que vivem no Algarve só porque ainda não encontraram as tabuletas a dizer «aeroporto»!

No fundo, as tabuletas postas são as que ficam nos sítios óbvios, para quem já conhece a região e, portanto, não precisa delas. As que deviam ser postas para quem vem de fora nunca lá estão.

É ridículo. E enervante para quem viaja. Sobretudo porque eu já vi países onde os sinais servem para ajudar os condutores. Sim, é possível! Avisam com antecedência das várias hipóteses, clarificam o caminho, ajudam o trânsito a fluir, etc.

Já vi inclusivamente ? coisa impensável cá! ? toda uma sinalização alternativa de emergência para o caso de tufões. Na Florida. Duma cor diferente e perfeitamente clara. Para o condutor não perder tempo a dar voltas às rotundas a pensar para onde deve seguir, quando vai a fugir a um vento de 200 km/h. Um tufão, cá em Portugal, apanhava toda a gente engarrafada a perguntar «e agora, viro à direita ou à esquerda?». Se calhar foi o que aconteceu na Birmânia...

Eu proponho um sistema de avaliação novo e totalmente eficaz para medir a competência das pessoas no seu sector de trabalho. A martelada no dedo mindinho.

O viajante que se perdeu, quando conseguir chegar ao destino dá uma martelada no dedo mindinho do tipo que não pôs as tabuletas. Ao fim de umas marteladas ele talvez perceba que não é bom no que faz e peça transferência. O/A ministro/a que levar umas marteladas talvez atine, e assim por diante. Ao ver uma pessoa com um dedo mindinho todo negro de pancada, já temos tema de conversa: «O senhor é incompetente onde?»

O que se poupava em tempo perdido com más políticas, quilómetros enganados, anos de estudo com programas mal feitos!... e, no fundo, só com o gasto de um martelo por habitante. E não é o Estado a pagar. Cada um de nós compra um, e com todo o prazer."

@: sexta.pt - 16.05.08

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