5.21.2008

Num céu de chumbo






São uma aves terríveis, estas aves.
Quantos e quantos quilos de peixe fresco
de vivas sensações
de amores frustrados
- estas aves consomem, dia a dia.
Isto é que as faz moverem-se deste modo:
nunca sabendo onde repousar, reclinar as descarnadas asas
de momento moventes vaporosas impalpáveis quase
de momento turvas não sonoras turvas indecifráveis asas
que no labirinto do seu sonho pessoal
do seu hábito confuso
se habituaram - saudosas - a viver
a voar no torvelinho de azáfama e medo
que as torna - pobres aves -
tão singularmente humanas e detestáveis


Raul de Carvalho
07.02.66

@: As mãos da escrita - © Biblioteca Nacional de Portugal

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